A máscara
Pensei, pensei e pensei antes de publicar este texto. Não é um lamento nem um pedido de ajuda porque neste espaço escrevo apenas e, escrevo sobre a "máscara" porque talvez haja alguém que se reveja neste texto. E assim sabe que não é a única pessoa a sentir e a lidar com o mesmo que eu.
Não porque não.
Não quero continuar a viver a minha vida da forma como a tenho vivido.
Estou farta de me "mascarar" para não sentir. Não sentir a dor na alma. Mas a dor fica na mesma porque o que adormece é o corpo.
Estou agora a olhar para o fundo do poço que mesmo que tivesse água não iria refletir a minha imagem apenas porque eu já não sou eu.
Já não consigo ouvir uma música ou um filme sem debitar lágrimas.
Já não tenho vontade de me cuidar.
E estou a olhar para o fundo do poço como se pudesse ter uma resposta. Mas só escuto o eco do meu apelo silencioso.
Sim estou deprimida. Muito. Mas não tenho vergonha. Tenho só medo, muito medo de não ser capaz sozinha de parar de olhar para o fundo do poço que cada vez parece mais perto. Até porque, quem me quer dar a mão já não tem força para me agarrar e quem poderia ter força para me agarrar já desistiu, já não quer saber.
O meu médico de família poderia ter tido razão. Quando da chegada da pandemia a Portugal, na sua opinião, eu seria das primeiras a ir para o "outro mundo". Mas ainda cá estou e já tomei a primeira dose da vacina. E vou tomar a segunda. Não na esperança de prolongar a minha vida, mas com esperança de ajudar a deter a pandemia, no sentido de que quem gosta de viver o possa fazer cada vez com menos receio.
Receio tenho eu de ter de continuar assim nesta vida, desvalorizada e sentindo-me cada vez menos útil e capaz do que quer que seja, mesmo que queira. Tudo o que faço é arrastar-me até que chegue a hora. E no relógio da vida não tenho coragem de alterar a hora, para já. Mas posso ir fazendo com que os minutos passem mais depressa.
Mesmo assim, cá vou eu, vivendo a minha vida que antes da pandemia já era um pandemónio.